Estudos sobre Design
A Importância do Design para o
Sistema de Metrô Londrino
O sistema de metrô de Londres passou por diversas transformações ao longo de sua história, entre elas, a sua unificação e criação da London Transport sendo provavelmente foi a mais importante e significativa. Nesse processo, o design foi de extrema importância para passar a ideia de unidade, com nova logo, placas e tipografias, mudança nos uniformes, mapa bem elaborado e sinalizado de fácil entendimento e para atrair novos usuários com cartazes feitos para conquistar viajantes para partes subutilizadas de Londres.

A primeira linha férrea de Londres, a Metropolitan, foi fundada em 1863. Nos anos seguintes foram criadas novas linhas por outras companhias, que mais tarde, em 1913, seriam em sua maioria fundidas pela Underground Eletric Railways of London (UERL), que nesse ano já estava sob o comando do empresário Albert Stanley ou Lorde Ashfield e controlava grande parte do transporte londrino, exceto os bondes.
Nos anos 20, o Lorde Ashfield estava certo de que o transporte público de Londres poderia ser mais bem aproveitado comercialmente se não fosse tão monopolizado, e em 1929 ele propôs um plano com o ministro dos transportes da época, Herbert Morrison, para que a propriedade e administração dos ônibus, bondes e trens da cidade fossem de apenas uma autoridade. Assim em 1933, controlada pela London Passenger Transport Board (LPTB), foi criada a London Transport, comandada também pelo Lorde Ashfield, pois sua companhia UERL era grande parte da London Transport.
“Historicamente, a London Transport era, portanto, um conglomerado que teve de criar para si uma identidade diferenciadora que contivesse todas as suas partes distintas, problema que já fora enfrentado pelo UERL em suas atividades de aquisição e fusão.”
(Forty, 2006, pg.310)
A London Transport foi criada da junção de várias companhias, mais especificamente 165, que antes funcionavam individualmente e eram independentes, mas que agora eram parte de uma mesma empresa e precisavam passar a ideia de unificação, sendo o design o meio de alcançar esse objetivo.
“De todas a as maneiras pelas quais o design pode influenciar nosso pensamento, a única reconhecida amplamente foi seu uso para expressar a identidade das organizações.”
(Forty, 2006, pg.301)
A identidade da London Transport começou a ser definida e precisava ser comum em todas as estações para dar a ideia de um único sistema. O símbolo do metrô, o medalhão vermelho e azul, estava presente em diversos lugares pelas estações, assim como a fonte tipográfica usada criada por Edward Johnston em 1916, ambos eram marcas do sistema de transporte e estavam presentes em placas de sinalização, direção e informação, além da mesma fonte tipográfica.

“A atenção dada ao design das estações, dos ônibus, trens, publicidade e até de objetos aparentemente insignificantes, como pontos da parada de ônibus e máquinas de bilhetes, tudo isso contribuía para a imagem de um sistema unificado.”
(Forty, 2006, pg.312)

A decoração das estações forma pensadas para terem um modelo simples, puro e decoradas com cartazes artísticos, a maioria delas possuíam características comuns, com catracas, máquinas de bilhete, bancas de livros e passagens que foram projetados de forma harmônica para que tudo parecesse estar em seu devido lugar como foram planejados. Os ônibus e locomotivas também foram trocadas com o tempo, na parte interna havia a preocupação de esconder as emendas e parafusos, estofados e cintos também foram trocados.
“O fato de que as mesmas características de design fossem comuns às estações do metrô e aos ônibus contribuía para que o passageiro sentisse que o transporte londrino era, de fato, um sistema.”
(Forty, 2006, pg.313)
As estações de metrô e de ônibus feitas entre 1920 e 1930 foram feitas com os mesmos materiais, mas diferentes em estrutura, os outros elementos das estações, como bilheteria e catracas também eram organizados da mesma forma em ambos os transportes, algo que causava nos passageiros uma familiaridade e a sensação de estarem em um mesmo sistema de transporte.
Assim, em meados de 1939, a London Transport já podia ser vista como de fato uma só organização, com características comuns em vários elementos, como ônibus, metrôs, estações, placas, lixeiras, bilheterias e outros que davam a ideia de um sistema único, algo que não havia ocorrido em outras capitais que também tinham ônibus e metrôs como parte da mesma organização.


“Em retrospecto, podemos perceber dois motivos distintos para a política de design corporativo da London Transport. Um dizia respeito à organização interna e às relações de trabalho; outro era estimular as pessoas a viajar mais.”
(Forty, 2006, pg.311)
Outro desafio enfrentado pela LPTB, foi na sua organização interna, tendo vários trabalhadores que antes eram de empresas distintas, mas que agora precisavam se sentir em uma única organização, para isso foram necessários novos horários e novos uniformes com a nova identidade da London Transport.
Além disso, era necessário atrair pessoas e mostrar os melhoramentos às que não utilizavam transporte público, assim começaram a ser produzidos cartazes sobre o novo sistema. Depois de um tempo, esses cartazes passaram ao invés de falar sobre a viagem em si, mostravam as consequências da viagem, divulgando os lugares da cidade a serem visitados e explorados, como museus, teatros, parques e outros, atraindo também viagens à lugares pouco frequentados e periféricos.
Outro fator que ajudou no aumento de viagens, foi o novo mapa do metrô de Londres, com fácil entendimento e legibilidade. Mesmo com essas qualidades, o mapa não era correto em sua geografia, sendo projetado apenas com linhas em 90 e 45 graus, as distâncias entre os pontos não condiziam com a realidade. Com esses erros, os lugares pareciam bem mais perto do que realmente eram, e isso atraia pessoas a viajarem pela curta distância.
“Porém, de todos os meios usados pelo consórcio do UERL ou pela London Transport para mudar as ideias das pessoas sobre a capital, nenhum foi mais duradouro e influente que o mapa do metrô”
(Forty, 2006, pg.315)

Referências
Forty, Adrian. Objetos de Desejo. São Paulo: Cosac Naify, 2006
https://en.wikipedia.org/wiki/Albert_Stanley,_1st_Baron_Ashfield
Imagens:
Texto desenvolvido por Bruna Karine de Góes Costa para a disciplina Introdução ao Estudo do Design - Universidade Federal do Rio Grande do Norte - Departamento de Artes - Bacharelado em Design - Novembro de 2019. O texto colabora com o projeto de extensão “Blog Estudos sobre Design”, coordenado pelo Prof. Rodrigo N. Boufleur (http://estudossobredesign.blogspot.com).